- Eu tô te achando tão estranho, Charles.
- Não é nada não, só ando muito cançado.
- Você já foi ao médico?
- Eu não gosto de médicos, de hospital, quimioterapia, fisioterapia, nada de que tem como sufixo rapia.
No fundo, Laura achava que ele estava escondendo alguma coisa dela só não sabia o que. Será que era outra menina ou um cansaço normal? (ele sempre tinha esses cançaços) Mas ela ja era a única menininha dele. Será?
- Mas você não tem nada pra me contar, amor?
- Para, Laura. Eu não quero falar sobre isso agora.
- Isso o que?
- Olha, você me ensinou muita coisa boa, mas eu acho que ta acabando.
- Acha ou pra você já acabou?
- Acabou...
- É outra menina?
- Você é minha menina, sempre será. Mas tem outra pessoa sim.
- Faz tempo?
- Não sei dizer.
- Qual o meu problema?
- Nenhum. O problema sou eu, eu que quero sair desse barco.
- E ai você me deixa sozinha contra a correnteza depois de se tornar meus braços, minha vontade, meu fôlego?
- Eu não te deixei sozinha, eu só não quero nadar com você.
E doeu muito nele falar isso olhando pra ela. Ela tem olhos negro e por um instante se perdeu naquela escuridão. Mas ele tinha que ir até o fim. Não dava mais, não é como na novela. E se fosse ele seria o vilão, mesmo que pra ela um vilão adorável.
- Então eu vou nadar sozinha?
Ele engoliu o nó na garganta e disse: -Eu não quero mais nadar com você, essa é a verdade.


Mas Laura ficou bem depois disso tudo. Chorou um pouco é claro, mas ficou bem. Continuou sua vida, arrumou o quarto, fez alguns ajustes no sonhos, principalmente nos que Charles existia. Cismou que a vida é uma roda-gigante e que naquele momento ela estava um pouco mais perto do chão, mas nutria grandes esperanças e não via a hora de ela girar de novo.
Pensou. Pensou muito, tentou entender, tentou não gostar dele, tirar ele da cabeça. Pensou até em amor psicológico, então começou a dizer pra si mesma que não o amava. Mas a cada vez que pensava em se dizer pensava nele e isso doia muito. E sentiu dor, muita dor. Ele todo doia nela. Se sentia um lixo descartado, estava realmente péssima não podia ver beijo, ler, ouvir música, as mínimas coisas começaram a tomar outro sentido, e em TUDO se lembrava dele. Então aquele estado inicial de "tô bem" passou e ela ficou mal. Sentiu que aquela esperança dele voltar sumiu, e esta esperança fazia muita falta. Era um vazio sem fim, um frio, uma dor. Não queria machucar ninguém nem machucar-se, mas sabia que teria que sangrar, sofre se quisesse arrancar os velhos espinhos.


Querido Charles,

Não quero que você pense, saiba, ou tenha certeza de que eu preciso de você. Não sei onde consegui forças pra te escrever esta carta, e não sei onde vou arranjar coragem para te envia-la. Estou em Porto Seguro, passei na aquele concurso. Mainha ficou feliz e disse que ares litorâneos iriam me fazer bem. Concordei mas as vinte primeiras vezes que sai na varanda, que da pro mar como a gente sonhou, senti saudade de você e isso ainda não me faz bem.
Não quero me aproximar porque parece que eu te doo e eu não quero te doer assim. Você parecia tão bem... tão feliz, e pelo que eu vejo você não precisa de mim pra isso- ainda é difícil admitir que enquanto você não me nota eu preciso de você pr existir.
Antes de ontem fez um meses, você lembrou? Preciso de você. Preciso muito! Preciso do seu sorriso, do seu abraço, da sua atenção, pelo menos um olhar seu, pô! Eu sinto um vazio imenso uma coisa que doi e eu não sei o que eu faço pra saciar essa minha sede de você. Não posso sentir isso por ti, você ta feliz e seria muito egoísmo te querer perto de mim só pra eu ser feliz. Há... você é minha felicidade mais doce. Doi pensar que você ja me esqueceu e imaginar você com a outra menina. Se você ler pra ela Conselho de um Velho apaixonado (Drummond) eu nunca mais falo com você!

Da tua menina,
Laura.