Laura,


Eu sei que você não me conhece, e corro o risco de parecer um louco, mas eu já te conhecia nos meus sonhos... Eu li as cartas que você mandou pra Charles, eu não deveria sei disso, mas eu não consegui ficar longe de você. Eu as li todos os dias durante todos esses meses. Incansávelmente. Eu tentava te entender, entender o que você estava sentindo e por muitas vezes quase peguei um ônibus e fui pra Porto bater em todos escritórios administrativos da cidade só pra te ver mesmo que ao longe. Queria ver seus gestos simples como colocar o cabelo atrás da orelha ou 'sorrir de canto' quando vê uma criança brincando. Eu sei que você é assim porque eu sonhei com você a minha vida inteira.
Meu nome é Júlio sou primo de Charles. Sou argentino e vim para o Brasil morar com a minha mãe que se divorciou do meu pai. Encontrei as cartas em uma gaveta quando procurava velas, pois a energia estava fraca, era uma tarde chuvosa e as tive de ler a luz amareleda e triste das velas. Mágico não?
Você deve estar se perguntando porque eu estou te enviando esta carta só agora. Respondo. Tive medo de você não as mandar mais, de não me entender, de sumir pra sempre e eu não posso te perder agora, não agora que comecei a me encontrar. Entretanto a terceira e ultima carta você terminou diferente das outras. Não a terminastes com reticências de uma mulher ferida nem com exclamações de uma menina solitária, a terminastes com um ponto final de alguém que aprende com os desafios que a vida lhe propõe. Diversas vezes escrevi bilhetes pra você, mas nunca tive coragem de te enviar -quem sabe um dia?
Venço meu medo e mesmo que você não me responda te cultivarei nos meus sonhos. Gratuitamente, lembra?
Ah! essa flor é do quintal da minha casa, eu sempre lembrava de você quando a olhava.
Um até breve ou até nunca.